HOMILIA DO DOMINGO 04/06/2017, FESTA DE PENTECOSTES

por: padre Pablo Neves, pároco da Igreja Sirian Ortodoxa Santo Efrém, em São Luís – MA

(+) Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, um só Deus Verdadeiro.

Que a Graça e a Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo esteja com todos vocês.

Prezadas irmãs e irmãos em Cristo, o Senhor mais uma vez nos permitiu estar reunidos diante de Seu altar, de onde emanam as Graças e as Bênçãos necessárias para nossa salvação, pois sobre Ele se faz presente verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o qual professamos sendo um só com Pai e o Espírito Santo e que, por Amor, se deu na cruz para remir nossos pecados.


Queridos filhos e filhas espirituais,

Hoje a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia celebra a festa de Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre a Igreja, que repleta da Graça de Deus, anuncia a Boa Nova da Salvação a todos.

O Espírito Santo trouxe aquele entendimento que Nosso Senhor Jesus Cristo havia prometido, como lemos no Evangelho de hoje, que diz: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”. O Espírito Santo então abriu completamente o entendimento da Igreja para sua missão, que encontramos no Evangelho de São Mateus 22, 37-39, que é cumprir os mandamentos do Senhor de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E como a Igreja faz isso? Anunciando o Evangelho, a Boa Nova, O Céu, e faz isso através não somente da palavra anunciada em termos “humanos” com nossa boca, como anunciamos tantas outras coisas mundanas, mas vivida pela Santa Igreja de Deus através dos Sacramentos, da Caridade e do Testemunho cristão em tudo.

Faço questão de recordar um fato aqui: nos Atos dos Apóstolos, encontramos desde o primeiro capítulo os discípulos reunidos com a assembleia, ou seja, a Igreja de Deus, que contava com cerca de 120 pessoas, mas São Lucas (que escreveu os Atos dos Apóstolos) faz questão de destacar que a Sempre Virgem Maria Mãe de Deus estava entre eles (Atos 1, 14). Veja que, desde a Anunciação (Lucas 1, 26-37), passando pelo primeiro milagre (João 2, 1-11), pela Crucificação (João 19, 26-27) e até aqui no Pentecostes, a Sagrada Escritura faz questão de deixar para nós uma verdade: É Deus que quer Maria junto a Igreja. Alguns gostam de chamar o Pentecostes de “a inauguração da Igreja” e, se utilizarmos esse termo, podemos (com o perdão dos termos) dizer que a Santíssima Virgem foi colocada pelo próprio Deus em tudo, do planejamento à inauguração. Pergunto-vos: seremos nós a tirar a Santíssima Virgem Maria de nosso “ser Igreja”, deixando de proclamá-la para sempre como Bem Aventurada (Lucas 1, 48)?

Bem, fiz questão de frisar isso porque, muitos de nós somos levados a crer que esse “ser Igreja” é algo que está ligado a uma opção particular do que “crer ou não crer”. Deixe-me explicar: Por seu batismo, você e eu temos o dever de ser Igreja em tudo, e não só naquilo que convém ou só no que cabe em sua cabeça. Aliás, bem falou Nosso Senhor ao dizer em São Lucas 9, 62 que “”aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus“. Mas o que seria esse “olhar para trás”?

Olhar para trás é colocar as suas “verdades” acima da Verdade de Deus. Quando digo isso, quero dizer que nós nos fechamos para que o Espírito Santo haja em nós, permitindo que o mundo seja um obstáculo para o Céu. Quando falo de “mundo”, não quero nem chegar aos estereótipos religiosos pregados ao vento por muitos. Não, não falo de “prostituição”, “drogas” ou coisas do tipo. É claro que essas coisas são ruins e compõem o que chamamos de “males do mundo”, mas muitos de nós não nos sentidos atingidos por isso, porque simplesmente acreditamos que essas situações não nos pertencem, ou seja, dizemos pra nós mesmos “eu não faço isso, logo não sou do mundo”.

Filhos queridos, em nosso caminho nem sempre é o galho que esbarra em nossos rostos que nos machucará, mas é o toco escondido entre o mato que nos fará tropeçar. Muitas vezes é nas pequenas coisas que nossa vida se fecha para que o Espírito Santo não nos governe plenamente. O medo, a preguiça, a falta de tempo, o orgulho, o preconceito, a inveja, enfim, são essas coisas cotidianas que transpassam nossas vidas (de todos nós!) que nos fazem ficar longe do Espírito Santo.

Deus não nos deu muito. Deus nos deu tudo!

Nós devemos deixar nossa vida ser conduzida pelo Espírito Santo, pois Cristo tudo venceu em sua Cruz Redentora. Aquilo que o mundo nos apresenta como obstáculo, nós devemos, cheios do Espírito Santo, ver como degraus para o céu.

Vejamos o exemplo do santo apóstolo Pedro, que antes, assim como os demais, tardava a entender simples parábolas do Senhor, mas agora, cheio do Espírito Santo, anunciava: “…recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2: 38) e assim foi instrumento de Deus para que de uma só vez cerca de 3 mil pessoas se convertessem (Atos, 2: 41). Perseverem no Amor de Deus e no testemunho cristão, e nada vos será impossível, pois o Espírito Santo habita em vossas vidas.

Filhos, hoje também encerra-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, um evento anual organizado pelo chamado “movimento ecumênico”, que busca promover reflexões e ações em prol da unidade cristã. Nesses dois mil anos de cristianismo, muitos homens e mulheres envergonharam o Evangelho, sendo semente de discórdia e divisão. Hoje, nascemos em meio a uma cristandade dividida, como se fosse possível desmembrar o Corpo de Cristo. Mas a pergunta que vos faço é: o que faremos diante disso?

Bastará dizer que quem é diferente não existe? Ou ofender aquela ou aquela que crê de forma diferente? Será cristão, em nome da defesa da fé, ignorar ou ofender alguém?

Nós sabemos que as diferenças entre as diversas comunidades cristãs são muitas, e que abraços e apertos de mão não as resolverão. Mas discordar do outro não me dá o direito de ser um “agente da discórdia”. Ainda que não possamos comungar em tudo, numa coisa por Cristo Nosso Senhor e Salvador somos obrigados: a respeitar. Se nós, Cristãos, que carregamos por nosso batismo a marca do Amor maior de Deus pela humanidade não soubermos respeitar o outro, caberá nossa vida na Igreja, o Corpo de Cristo, Aquele que só amou?

Não é fácil ser um agente de paz, e nem sempre vossos corações estarão dispostos, mas mesmo a falta de reciprocidade não nos dá direito de “atirar pérolas aos porcos” (Mateus 7: 6). Se um dia fizemos um compromisso com Deus, de sermos seguidores e imitadores de Seu Filho Unigênito, jamais então fará parte de nossas opções abandonar o barco da humildade, do Amor, do serviço e da promoção da paz.

Por isso, ainda que o movimento ecumênico muitas vezes dê a entender que seus participantes creem que “qualquer coisa é a mesma coisa”, relativizando aquilo que creem como Verdade de Fé, nós da Igreja Sirian Ortodoxa devemos ter em mente que nosso compromisso não é com a má interpretação ou exagero de ninguém, mas com o seguimento de Jesus Cristo, aquele que “a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.” (Isaías 9: 5).

Nesta festa de Pentecostes, cheios do Espírito Santo, somos chamados à reconciliação, com Deus, com nós mesmos e com o outro. Somos chamados a assumir os dons que o Espírito Santo derrama sobre nós, anunciando Cristo com nosso testemunho em tudo e com todos.

Que o Espírito Santo de Deus derrame sobre vós seus dons, fazendo de vossas vidas como o barro nas mãos do oleiro (Eclesiástico 33: 13), nos moldando e nos dispondo sempre ao Amor.